Por GllVAN SAMPAIO - Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST)
Nos últimos anos, o tema mudança climática foi discutido amplamente. Entretanto, hoje existe um debate que tenta desviar e confundir as pessoas que são leigas no assunto, pois muitos, na maioria das vezes sem muita propriedade, questionam se existe aquecimento global e se o clima está mudando. O fato é que a cada hora a humanidade injeta na atmosfera milhões de toneladas de gases, tais como dióxido de carbono e metano, além de destruir áreas consideráveis de florestas. A conseqüência disso é a intensificação do efeito estufa. Com isso, há também crescente au¬mento da temperatura média global, o que é chamado de aquecimento global.
Efeito estufa não é crença! É física já conhecida há muito tempo. O efeito estufa foi observado, pela primeira vez, por Jean Baptiste Fourier, no século 19. Considerando os avanços científicos nos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (lPCC) e estudos recentes, chega-se a conclusão de que o clima, de fato, está mudando global e regionalmente. Entretanto, a pergunta é: as mudanças climáticas são devidas às causas naturais ou antrópicas?
As reconstruções de temperatura dos últimos mil anos indicam que mudanças da temperatura global não são exclusivamente devido a causas naturais, mesmo considerando as grandes incertezas dos registros paleoclimáticos.
Os países desenvolvidos são, historicamente, os principais emissores de dióxido de carbono. Todavia, em alguns países em desenvolvimento, recentemente, tem sido grande a quantidade de emissão de C02 por mudanças de usos da terra. No caso do Brasil, 75% das emissões de dióxido de carbono são provenientes de mudanças no uso do solo e da terra e por queimadas. É importante ressaltar que o C02 não é o único gás de efeito estufa que vem aumentando na atmosfera em virtude das atividades humanas. Há também aumento de metano, óxidos de nitrogênio, ozônio troposférico e vapor d'água.
E quais são/serão as principais conseqüências do aquecimento global? Derretimento de calotas polares, com aumento do nível médio do mar e inundação de regiões mais baixas. A evaporação nas regiões equatoriais aumenta e com isso os sistemas meteorológicos, como furacões e tempestades tropicais, ficam mais ativos. Além disso, dependendo das condições sanitárias e ambientais, devem aumentar as doenças tropicais, como malária, dengue e febre amarela.
O relatório do IPCC realizado em fevereiro de 2007 apresentou detalhes e resultados mais precisos do que os apresentados antes. Os cenários climáticos projetados pelo IPCC para este século indicam que a temperatura média do planeta continuará subindo, no mínimo, mais 1,8ºC e no máximo cerca de 4,0ºC, com a melhor estimativa em torno de 3,0°C.
As avaliações do IPCC indicam que países em desenvolvimento são, de modo geral, os mais vulneráveis. As projeções indicam que a ocorrência de extremos climáticos pode aumentar. Há setores que podem ser particularmente vulneráveis, tais como os ecossistemas naturais (com possíveis mudanças nas coberturas vegetais e na biodiversidade), os agroecossistemas e os socioeconômicos (através de efeitos na agricultura, recursos hídricos, saúde humana, etc).
As projeções para o fim do século XXI na América do Sul indicam aumento da temperatura em praticamente todo o continente. O Brasil é um país em que a variabilidade natural do clima, sentida através de eventos extremos e alternados, como secas e estiagens, propicia grandes dificuldades de recuperação para a sociedade. Eventos climáticos extremos podem ser mais freqüentes e com isso maior deverá ser a capacidade da população em se adaptar a essas mudanças.
Artigo extraído de: www.manuelzao.ufmg.br
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