Os artigos clarificam uma questão inicial: apesar de próximos na escala Richter, por que tamanha diferença nos estragos e nas perdas de vidas num e noutro? A resposta pode ser sintetizada a partir de outro caso:
“O sismo de 1989 próximo de San Francisco, na Califórnia, foi de uma magnitude semelhante ao do Haiti, mas matou apenas 63 pessoas, principalmente porque a maior parte dos edifícios ali está construída para resistir ao choque” (The Economist, 20 de Fevereiro de 2010, pág. 47).
Ainda pela mesma fonte, segundo cálculos de economistas do Banco Interamericano de Desenvolvimento, serão necessários entre 8 e 14 bilhões [milhares de milhões] de dólares para reconstruir as casas, escolas, estradas e outras infra-estruturas destruídas ou danificadas pelo sismo no Haiti.
Numa passagem em sua obra “A Doutrina do Choque”, Naomi Klein reflete sobre o teor conspiratório das teorias sobre os recentes eventos:
“A série recente de desastres se traduziu em lucros tão espetaculares, que muitas pessoas em todo o mundo chegaram à mesma conclusão: os ricos e poderosos devem estar causando essas catástrofes, deliberadamente, a fim de explorá-las. [...] A verdade é, ao mesmo tempo, menos sinistra e perigosa. Um sistema econômico que requer crescimento constante, enquanto pratica quase todos os mais graves atentados à regulação ambiental, acaba originando uma torrente contínua de desastres próprios, militares, ecológicos ou financeiros. O apetite pelo lucro fácil, imediato, ofertado pelo investimento meramente especulativo, transformou os mercados de ações, moedas e imóveis em máquinas de geração de desequilíbrios, como ficou demonstrado com a crise financeira da Ásia, a crise do peso mexicano e o colapso das empresas pontocom. [...] Enquanto o complexo do capitalismo de desastre não conspira para criar, de modo deliberado, os cataclismos que o alimentam (embora o Iraque venha ser uma notável exceção), há forte evidência de que as indústrias que o compõem trabalham duro para assegurar que as tendências calamitosas atuais permaneçam incontestadas”
Numa aritmética da destruição, a doutrina do choque segue através da militarização e da imposição de planos econômicos em momentos de crises. Dessa forma, resta aos movimentos aprenderem a resistir aos choques. Uma das formas descritas pelo processo histórico é memória e a resistência pela construção de poder popular. Dadas as condições econômicas e ecológicas, essa é uma tarefa inadiável aos movimentos e organizações. Passa Palavra.
Chile e Haiti depois dos terremotos: tão diferentes mas tão iguais…
Por José Antonio Gutiérrez D.
I.
Mais uma vez o Chile é atingido por um terremoto de proporções apocalípticas, como foram os terremotos de 1938, de 1960 e de 1985. Com a precisão de um relógio suíço, o centro-sul do país é abalado a cada 25 anos por um movimento sísmico que deixa o país em estado de comoção. O terremoto que presenciamos em 27 de fevereiro foi um dos mais fortes registrados em toda a história: 8,8 graus na escala Richter e 9 na escala Mercalli.
A angústia de não saber nada sobre nossos entes queridos, de não poder se comunicar com eles, é acompanhada da destruição, da ausência de comunicação e da morte ou desaparição de muitas pessoas. A impotência é uma sombra que paira sobre o coração. O número de mortos já passa de 700; há aqueles que afirmam a possibilidade de uma cifra final de uns 2.000 até que se tome conta do quadro final da devastação; não se tem notícias ainda de muitas províncias afetadas nas regiões de Maule e Bío-Bio. Quando se abordava a cifra de 300 mortos, veio a tona a notícia que o tsunami de Constituición havia ceifado a vida de 350 pessoas, o que duplicou o número de mortos. Há notícias de outras localidades que também foram atingidas por tsunamis mas ainda se desconhece a magnitude dos danos provocados.
As seqüelas que este terremoto deixará para o povo chileno são terríveis. Estima-se que há, neste momento, 2 milhões de pessoas que perderam suas residências e estão literalmente nas ruas. Estamos falando de mais de 10% da população, o que dá a idéia da titânica tarefa de reconstrução que há daqui em diante.
II.
Muito se tem falado sobre as diferenças entre Chile e Haiti, porque o terremoto no país hermano caribenho deixou uma cifra de mortos (300.000) e um dano, tanto em termos absolutos como relativos, muito maior. Se tem abordado as razões geológicas e sismológicas, como a maior profundidade do epicentro e a área em que sucedeu, e elas, desde então, tem desempenhado um papel muito claro. Mas, sobretudo há que buscar nas razões políticas, econômicas e sociais a explicação do porque um terremoto de maior magnitude no Chile deixa um impacto muito menor.
Certamente, o Chile é um país dificilmente comparável com o Haiti: tem uma infra-estrutura muito superior, uma economia muito menos dependente e menos atrofiada que a haitiana (enquanto o Haiti é um caso extremo dentro do contexto latino-americano, o Chile goza de meio século de experiências nacional-desenvolvimentistas que deixaram sua marca até os dias de hoje) e uma capacidade de resposta institucional ante as catástrofes naturais muito maior. A miséria chilena não alcança níveis tão sórdidos como no Haiti, onde a população dos subúrbios da capital era obrigada a recorrer a biscoitos de barro para enganar sua fome. Obviamente nada disso se deve a uma inexistente “superioridade” chilena, que o chauvinismo crioulo aporta em comparações tão falaciosas como odiosas (“o chileno é mais trabalhador, é mais hábil, é mais isto, mais aquilo”), mas se deve principalmente às diferentes histórias relativas de ambas repúblicas – histórias que são divergentes ainda desde tempos coloniais, uma vez que o Chile não se transformou de fato em um quintal de plantação, em um país maquila [1], nem sofreu uma intervenção direta ou saque pelos EUA. O Chile, ademais, é um país com uma longa história de movimentos sísmicos, o que o deixaria “em vantagem” perante o Haiti.
III.
Ainda assim, se fala pouco a respeito das semelhanças. A mais óbvia é o fato de que os principais atingidos são os pobres. Ainda quando o terremoto atinge a todos por igual, uns estão mais preparados que outros para receber o sismo e para lidar com as dificuldades que se sucedem. O Chile não foi uma exceção a essa regra e os setores mais atingidos são os bairros populares, casas de adobe [2]; além disso, estamos cientes, por testemunhos confiáveis, que a ajuda apareceu tarde e de forma insuficiente nos bairros populares, que não têm tido prioridade, mesmo sendo estes os setores onde se deveria concentrar a ajuda devido a sua precariedade.
Segundo, grande parte da devastação se deve a infra-estrutura inadequada. Depois de uma farta experiência sísmica e de que metade do país tenha ido abaixo em 1985, houve certa consciência de criar infra-estrutura que suportasse os abalos de uma zona de atividade tectônica, como é o Chile. No entanto, em meados dos anos ‘90, a Concertación, que seguiu aprofundando o nefasto modelo neoliberal herdado da ditadura, deu início à privatização e subcontratação de empresas para obras públicas – muitas delas transnacionais que jamais responderão por pontes, estradas e rodovias destruídas, as quais imobilizaram o país e deixaram milhares de pessoas desamparadas enquanto estavam de viagem. Deve-se destacar que muitas das obras realizadas pelo MOP [3] há várias décadas atrás seguiram de pé, enquanto custosas estradas construídas há poucos anos, nas quais se tem pagado pedágios excessivos, se rasgaram como se fossem de papel. Posso dar um testemunho pessoal sobre o motivo da fragilidade destas obras viárias: no início de 2003 trabalhei no by pass de Rancagua [4], no setor Doñihue. Quando o geólogo recomendava cavar 1 metro e 80 centímetros, 2 metros em certas regiões do terreno instável, para reduzir custos, se ordenava a retro escavadora (uma que chamava a fivela) para não retirar mais de 30 centímetros. Sabíamos que esses caminhos não durariam mais de 10 anos. Agora o terremoto será uma desculpa muito oportuna para explicar sua destruição, mas o fato que a infra-estrutura pública ficou de pé enquanto a infra-estrutura privada entrou em colapso, ficando em ruínas, é incontestável.
O mesmo pode ser dito sobre as moradias: desde finais dos anos ‘90, com os escândalos das casas COPEVA [5], que em poucos meses começavam a demonstrar rachaduras e goteiras obrigando seus donos a fazer forros com plástico para passar o inverno (muitas das quais foram simplesmente demolidas pouco tempo depois), está claro que a política de moradia (anti)social no país – e da moradia em geral – é somente um negócio para os capitalistas imobiliários. Um negócio, por outro lado, facilitado mediante toda forma de corrupções e negligências dos próprios governos concertacionistas, alguns de cujos personagens participaram diretamente deste negócio tão lucrativo. Recordemos que o escândalo da COPEVA tem o nome de um ex-ministro democrata-cristão, Pérez Yoma. Hoje vemos muitas construções modernas, muitos conjuntos habitacionais de pessoas que com grandes sacrifícios alcançaram o “sonho da casa própria”, irem pelo ralo, com danos estruturais graves que as deixam inabitáveis. O caso mais dramático foi o do edifício de 15 andares que em Concepción desmoronou com cerca de uma centena de pessoas em seu interior. Um edifício novo, ainda com habitações à venda. É verdade que um terremoto tão poderoso sempre ocasionará danos e nunca poderá ser feito o suficiente para evitar vítimas; mas resulta injustificável que sejam precisamente as obras mais modernas as que tenham sofrido mais danos.
Da mesma forma que no Haiti, é provável que nenhum capitalista jamais deva responder por esses atos criminais. Por isso é necessário que o povo se mobilize e exija justiça, pois a política privatizante de obras públicas, imobiliárias e viárias é uma política abertamente criminosa, como o demonstra este terremoto. Aqui há responsáveis e se o povo não exige uma resposta por parte deles, jamais a terá.
IV.
Outra semelhança com o Haiti é a resposta repressiva e a militarização da resposta humanitária. Ainda que ambos os casos sejam obviamente diferentes (no Haiti a militarização humanitária tem aprofundado a ocupação do país e entregue um importante enclave geoestratégico aos EUA, algo que tem pleno sentido desde seu plano de militarização da região do Caribe e de recomposição hegemônica na América Latina), em ambos os casos se julgou com histeria os “saqueadores” para justificar uma presença de força que proteja os interesses de classe da elite.
Em Concepción, por um dia e meio, muita gente não presenciou nenhum tipo de ajuda. Isto é principalmente certo nos bairros populares, onde até a presente data pouco ou nada tem aparecido. Ante o desespero, o povo simplesmente aplica o impulso mais básico do ser humano que é o da sua conservação. O povo entrou em supermercados, postos de gasolina, farmácias, para se prover dos elementos e artigos mais básicos para alimentar as suas famílias. Ou devíamos esperar que o povo ficasse de braços cruzados, suportando a fadiga, fome e sede, enquanto os supermercados estavam repletos de bens? Isto era puro povo, pessoas comuns, mães, pais, jovens que pegaram caixas de leite, de arroz, do que puderam recuperar.
“Saque”, gritaram as autoridades para demonizar a justa reclamação do direito de viver, a comer, a matar a sede, a cuidar de seus filhos. Distorceram a história ao ponto de que, segundo eles, os “saqueadores” não tinham nenhuma necessidade, porque estavam roubando exclusivamente artigos de luxo, eletrônicos ou CDs, DVDs, quando a verdade é outra. Bastou, por último, que se tocasse em um par de bancos e aí a histeria já foi absoluta. “Lumpem”, passaram a gritar, para desumanizar o povo faminto e necessitado, pois com essa palavra elástica desde sempre se justifica o assassinato policial. Na época de Pinochet os chamavam de “humanóides” – o termo muda, a lógica política repressiva se mantém.
O mesmo “lumpem” de Nova Orleans, de Porto Príncipe, agora aparecia nas ruas de Concepción, e desde o primeiro momento o presidente eleito Sebastián Piñera, junto a seus comparsas no governo local, como a doutora Van Rysselberghe em Concepción, se escandalizavam ante o pouco que respeitavam a propriedade privada das grandes cadeias de supermercados. E enquanto a ajuda tardava em chegar, não houve nenhum problema para mobilizar uns quantos milhares de milicos para fazer efetiva a lei marcial em Concepción. Enquanto não chegava água para as bocas sedentas, não custou nada mobilizar os tanques com jatos de água para reprimir o “lumpem” que “saqueava” os “honestos” negociantes como Líder (Wall Mart) e Santa Isabel. O governo decretou Estado de Sítio e Toque de Recolher, fazendo eco com a direita política e com os grandes empresários e negociantes que, enquanto enchiam a boca para falar em “solidariedade” não foram capazes de colocar pacotes de arroz de seus supermercados à disposição do povo. Este recurso não se utilizava desde 1987 – para os que têm memória fraca, desde a época da ditadura. Isso demonstra que certos hábitos autoritários não desapareceram depois de duas décadas de “democracia vigiada”.
Às pessoas agora é o momento de fazer fila, passar fome e sede, e acalmar o choro de seus filhos. A ordem se restaurou novamente graças à bota militar. A grande propriedade privada volta a ser intocável.
É nestes momentos de crise quando o sistema mostra realmente sua cara. E em Concepción, da mesma forma que em Porto Príncipe, o demonstrou com toda sua crueldade: a propriedade dos capitalistas é mais importante que a vida e o bem-estar de centenas de milhares de pessoas necessitadas. Não é casual que o capitalismo receba freqüentemente o sobrenome de “selvagem”.
V.
Mas, Haiti e Chile também se assemelham ante a necessidade que aflora esse instinto essencial de apoio mútuo que permite ao povo sobreviver, avançar e constituir-se em um ator protagonista de sua história. Corresponde aos setores populares desenvolver essas tendências para a organização do povo, a solidariedade, para que se desenvolvam e vão mais além da mera sobrevivência. Para que se possa constituir em uma sociedade diferente, uma sociedade solidária, uma sociedade libertária, que se despoje do pesado fardo do individualismo imposto pelo modelo neoliberal feroz aplicado pela ditadura e aprofundado pela “democracia vigiada”.
Entre as muitas mensagens solidárias de amigos e companheiros nestes momentos tão angustiantes, quero destacar as muitas mensagens solidárias que tenho recebido de companheiros haitianos. Em meio a dor que eles mesmos carregam, guardam um momento para solidarizar-se com a dor do povo chileno. Nós fizemos nossa a sua dor, e eles hoje fazem sua a nossa dor.
Um companheiro de Grandans me escrevia neste sábado: “Estimado José Antonio, lhe agradeço os esforços de solidariedade com o povo haitinano. Hoje me sinto muito tocado com o violento terremoto no Chile. Desejo que sua família saia sã de tal sismo e que seu país se recupere rápido. O pouco que temos está disposto para ser dividido com vocês se for necessário. Até breve, Máxime Roumer”.
Mensagens como esta me recordam que a solidariedade é a ternura dos povos.
1 de Março de 2010.
Notas:
[1] Referência às maquiladoras, amplas zonas em que fábricas se instalam com a ausência da cobrança de impostos e impõem um acelerado ritmo de trabalho aos seus operários (ampla jornada de trabalho, baixos salários e ausência de direitos trabalhistas). [Nota do tradutor]
[2] Adobe é uma espécie de tijolo mais rudimentar, feito artesanalmente a base de areia crua, água e palha.
[3] Ministério de Obras Públicas.
[4] O by pass de Rancagua é uma estrada que passa por fora da cidade de Rancagua.
[5] Empresa imobiliária que enganou milhares de pessoas com casas de péssima qualidade que em pouco tempo eram inabitáveis. A empresa era de propriedade da família do ministro do interior do governo de Frei, Edmundo Pérez Yoma.
Tradução: Daniel Augusto de Almeida Alves
Publicado originalmente em: http://anarkismo.net/article/15959
O código de construção socialista do Chile
Por Naomi Klein
Desde que a desregulamentação causou um colapso econômico mundial em setembro de 2008 e todos tornaram-se keynesianos de novo, não tem sido fácil ser um fã fanático do falecido economista Milton Friedman. Tão amplamente desacreditado é o seu modelo de fundamentalismo de livre mercado que seus seguidores passaram ao desespero crescente em clamar vitórias ideológicas, apesar de pouco prováveis.
Há um caso particularmente desagradável nisso. Apenas dois dias após o Chile ser atingido por um terremoto devastador, o colunista do Wall Street Journal, Bret Stephens informou aos seus leitores que o espírito de Milton Friedman “foi com certeza protetor pairando sobre o Chile”, porque, “em grande parte graças a ele, o país passou por uma tragédia que em outro lugar poderia ter sido um apocalipse… Não foi por acaso que os chilenos estavam morando em casas de tijolo - e os haitianos em casas de palha - quando o lobo chegou para tentar derrubá-las.”
Segundo Stephens, as políticas radicais de livre mercado prescritas para o ditador chileno Augusto Pinochet por Milton Friedman e seus infames “Chicago Boys” são as razões do Chile ser uma nação próspera com “alguns dos códigos de construção mais rígidos do mundo”.
Há um problema bem grande com essa teoria: as modernas leis de construção sísmicas do Chile, elaboradas para resistir aos terremotos, foram aprovadas em 1972. Aquele ano é enormemente importante, pois foi o ano anterior a Pinochet tomar o poder num golpe sangrento apoiado pelos Estados Unidos. Isso significa que se há uma pessoa que merece receber o crédito pela lei, não é Friedman ou Pinochet, mas Salvador Allende, o presidente socialista democraticamente eleito do Chile. (Na verdade, muitos chilenos merecem o crédito, uma vez que as leis foram uma resposta ao histórico de terremotos, e a primeira delas foi aprovada em 1930).
Parece significativo, porém, que a lei foi promulgada mesmo no meio de um debilitante embargo econômico (“fazer a economia gritar”, o famoso resmungo de Richard Nixon após Allende vencer as eleições de 1970). A lei foi atualizada depois nos anos 90, bem após Pinochet e os Chicago Boys saírem finalmente do poder e a democracia foi restaurada.
Não é estranho: como Paul Krugman aponta, Friedman foi ambivalente sobre o código de construção, vendo-os ainda como uma outra infração à liberdade capitalista. Quanto ao argumento de que as políticas friedmanistas são as responsáveis pelos chilenos viverem em “casas de tijolos” ao invés de “palha”, está claro que Stephens não sabe nada sobre o pré-golpe no Chile. O Chile de 1960 tinha o melhor sistema de saúde e educação do continente, assim como um vibrante setor industrial e uma rápida expansão da classe média. Os chilenos acreditavam no Estado, e por isso elegeram Allende para avançar o projeto ainda mais.
Após o golpe e a morte de Allende, Pinochet e seus Chicago Boys fizeram o seu melhor para desmantelar a esfera pública do Chile, leiloando as empresas estatais e reduzindo os regulamentos financeiros e sindicais. Uma enorme riqueza foi criada nesse período, porém, por um custo terrível: no início dos anos 80, as medidas de Pinochet prescritas por Friedman causaram uma rápida desindustrialização, o aumento em dez vezes do desemprego e uma explosão de favelas, nitidamente instáveis. Eles também deixaram uma crise de corrupção e da dívida tão grave que, em 1982, Pinochet foi forçado a demitir o seu conselheiro chefe, um Chicago Boy, e nacionalizar várias instituições financeiras muito desregulamentadas. (Soa familiar?)
Felizmente, os Chicagos Boys não conseguiram desfazer tudo que Allende realizou. A empresa nacional de cobre, Codelco, permaneceu nas mãos do Estado, bombeando riqueza para os cofres públicos e previnindo os Chicagos Boys de degenerarem a economia do Chile completamente. Eles também nunca conseguiram jogar fora o resistente código de construção de Allende, um descuido ideológico pelo qual todos nós devemos estar gratos.
Tradução: Passa Palavra
Publicado originalmente em: http://www.huffingtonpost.com/naomi-klein/chiles-socialist-rebar_b_484143.html